Este blog pretende ser um espaço de partilha da prática pedagógica de uma educadora de infância. Todos os textos ,fotos e videos estão sujeitos ao RGPD.
Este blog pretende ser um espaço de partilha da prática pedagógica de uma educadora de infância. Todos os textos ,fotos e videos estão sujeitos ao RGPD.
Nestes primeiros dias vamos-nos apropriando dos vários espaços e instrumentos. O primeiro que começámos a utilizar foi o mapa de presenças. Primeiro eu , perguntando o nome a cada crianças ( apresentaram-se aos colegas, mas falaremos disso num outro post), escrevi-o no mapa de presenças e com a ajuda da Lina ( depois de combinarmos qual seria o código para marcar a presença) cada um foi marcando no mapa. Neste primeiro dia isto faz-se à volta da mesa grande pois rara que possamos ver como cada um faz e podermos assim integrar as várias estratégias usadas. No dia seguinte já marcamos a presença, sempre com o apoio do adulto, no mapa já colocado no lugar. E já vamos conseguindo fazê-lo sem muita ajuda do adulto. Porque é importante marcarmos a presença? Será um mero profórmio? Será mesmo necessário termos uma mapa para isso? e o mapa fica para todo o ano ou mês a mês vai mudando? Estas são algumas das questões que podemos formular sobre este instrumento. Em primeiro lugar o mapa de presenças é um instrumento poderosíssimo pois permite ás crianças apropriarem-se do seu nome e dos colegas, compreender a sequencia temporal de um mês, construir um sentido de pertença ao grupo etc. Aqui na sala todos os meses temos um mapa novo e ficamos com o anterior para que possamos lê-lo e interpretá-lo sempre que for necessário. Podemos também se assim quisermos construir a sequencia dos meses à medida que o tempo vai passando...podemos....
E é este podemos que aqui na sala considero tão valioso, pois permite-nos avaliar... avaliar quantos dias houve escola, quantos dias viemos à escola e faltámos...quantos dias tem o mês, quantos fins-de-semana... e não tem fim .
A nossa sala está organizada por áreas de trabalho. As áreas estão devidamente assinaladas e serão objeto da gestão feita pelo grupo, nomeadamente quais as suas regras de funcionamento , o que se pode lá fazer etc.Esta organização irá permitir às crianças escolherem o que querem fazer, poder realizar várias escolhas diversificadas e permite também iniciar este trabalho de construção de uma pequena comunidade de aprendizagem uma vez que permite à crianças ajudarem-se mutuamente, construirem o seu projeto curricular individual, à semelhança do que acontece com o projeto individual de leitor, isto é cada criança com o apoio dos demais vai saber o que mais gosta de fazer, quais as áreas que tem de melhorar, quais os desafios a que propõe, etc.
"Quando pensamos em currículo, identifica mo-lo com a metáfora da viagem de Kliebard, que, segundo Vasconcelos (1990, p.18), nos propõe uma visão de currículo “…como uma estrada por onde as crianças viajam, sob a orientação de um guia e companheiro experimentado”. Nesta perspetiva, o importante é o processo, o caminho que se percorre e não tanto o ponto de partida ou de chegada. Por seu turno, o modelo do MEM (Folque, 2012, p. 54) “propõe um currículo baseado em problemas e motivações da vida real, apresentados de modo funcional e pragmático”, e que deve ser gerido cooperadamente por todos os intervenientes. Para apoiar a responsabilidade pela aprendizagem e pela vida do grupo, o MEM propõe uma determinada organização do espaço, do tempo e de interações reguladas por diversos instrumentos de pilotagem." (Assim aprendemos juntos Alexandra Cruz, Conceição Ventura, Margarida Rocha,Noémia Peres e Teresa Sousa*)
A sala está dividida em sete áreas:
Área do faz-de- conta , onde as crianças brincam ao faz -de conta desempenhando uma série de papeis e situações, através do jogo simbólico,
Atelier de artes plásticas, no qual as crianças desenvolvem uma série de projetos e atividades no domínio das artes visuais ( pintura, colagem, aguarelas, desenho com diversos materiais, composições, modelagem)
Área da escrita, no qual existem diversos materiais que permitem às crianças ensaiarem as suas tentativas de escrita. ( escrever o seu nome e os colegas, escrever cartas, recados, criar histórias....)
Laboratórios da matemática e das ciências, onde existem uma série de materiais estruturados ou não que permitem às crianças realizarem uma série de experiências e ensaios nos domínios da matemática, biologia, astronomia, física...
Construções e garagem onde as crianças se propõe realizar uma serie de construções e situações de aprendizagem em 3d
Biblioteca e centro de recursos, no qual existem uma série de livros e documentos que apoiam as crianças nos projetos e na leitura de histórias, etc
Área polivalente, onde se encontram uma série de instrumentos que apoiam a organização e gestão cooperada da sala . ( estes instrumentos serão objeto de posteriores publicações)
De acordo com as Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar (1997), “o contexto institucional de educação deve organizar-se como um ambiente facilitador de desenvolvimento e da aprendizagem das crianças.” (p. 31)
Mas, para além do que nos dizem as Orientações Curriculares, que são para nós educadores de Infância o nosso documento orientador, eu agarrada às minhas mais profundas convições (acredito num modelo pedagógico, o MEM ( Movimento da Escola Moderna)) organizo o meu cenário pedagógico com objetivos muito concretos: cooperação entre e com as crianças, participação das crianças em todas as tomadas de decisão que dizem respeito às suas aprendizagens, liberdade para criar e ser, profundo respeito por cada uma delas, instituir uma democracia participativa em que todos têm voz,iniciar com as crianças um caminho de práticas democráticas e de cidadania ativa.
Porque é esta a escola em que eu acredito.
[a] escola define-se para os docentes do MEM como um espaço de iniciação às práticas de cooperação e de solidariedade de uma vida democrática. Nele, os educandos deverão criar com os seus educadores as condições materiais, afectivas e sociais para que, em comum, possam organizar um ambiente institucional capaz de ajudar cada um a apropriar-se dos conhecimentos, dos processos e dos valores morais e estéticos gerados pela humanidade no seu percurso histórico-cultural (p. 141).
Durante o ano transato interrompi as publicações neste blog,como forma de protesto ao sobretrabalho dos docentes. Foi uma interrupção voluntária e foi mais uma forma de chamada de atenção sobre as injustiças que estão a ser cometidas na escola pública e contra quem nela trabalha. Fiz greve ao trabalho docente durante todos os meses e à medida que o tempo ia decorrendo foi-se percebendo que nada ia mudar e que continuaríamos com o tempo de serviço por contar, os tais 6 anos. 6 meses e 23 dias.
O ano terminou com a sensação de que, por muitas formas de luta que façamos nada se vai alterar, no entanto eu continuarei a fazer o meu papel nesta luta por uma profissão valorizada.
Assim sendo, vou continuar a fazer greve e a ser educadora pela metade... isto é no tempo que vou estar com as crianças estarei na minha máxima força, pois gosto de os ajudar a crescer , gosto de lhes dar as condições para que sejam cidadãos democráticos , solidários e empáticos. No tempo restante, em que estarei ausente, nesse tempo tenho mesmo que fazer o que a minha consciência me diz e continuar a lutar não só por mim mas sobretudo pelos docentes mais jovens.
Este post tem apenas o objetivo de informar as famílias e quem o costuma visitar que vou continuar a partilhar aqui o trabalho que vai sendo feito.
Recomeçar é sempre difícil e no meu caso, em que maioritariamente tenho crianças novas, terei que estabelecer laços com elas e com as suas famílias...
Por isso, bom ano letivo e que seja um ano de grande caminhada profissional.